As terríveis assombrações da Quinta da Boa Vista

O Brasil com suas fazendas, onde centenas de escravos foram turados e mortos, pode ser considerado um dos países mais mal-assombrados do mundo, mas pouco sabem que o lar da Família Imperial Brasileira também tem os seus mistérios.

Breve história do Palácio Imperial

O Palácio Imperial de São de Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, no Bairro Imperial de São Cristóvão, localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, foi a residência oficial da Família Imperial Brasileira por mais de oitenta anos e é cercado de histórias que deixam até os mais céticos de cabelo em pé. Além disso foi palco de importantes acontecimentos históricos.

Em 7 de março de 1808 a Família Real Portuguesa chegou ao Rio de Janeiro após uma estádia de cerca de dois meses em Salvador, na Bahia. Apesar dos apelos dos soteropolitanos pela permanência da realeza portuguesa em Salvador, pelo fato do Rio de Janeiro ser a capital do Brasil naquele momento, Dom João VI de Portugal (1767-1826) decidiu fixar residência na cidade.

Foi uma decisão acertada politicamente falando, mas havia um problema. A cidade não contava com nenhum grande palácio para receber a Família Real. Porém, esse problema logo foi recebido quando o comerciante de escravos Elias Antônio Lopes (c. 1770-1815) decidiu doar o casarão que havia erguido em 1803 a Dom João VI.

O casarão era afastado da cidade, localizado num terreno consideravelmente elevado, e precisou de muitas reformas e ampliações para contar com uma infraestrutura minimante adequada para atender as necessidades da Família Real.

A partir de 6 de novembro de 1817 a Quinta da Boa Vista, como o Palácio Imperial de São de Cristóvão era chamado, passou a abrigar uma nova moradora. A Arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria (1797-1826), que havia se deslocado de Viena para desposar o herdeiro do trono português Dom Pedro de Bragança (1798-1834).

A história e os boatos envolvendo a morte de Dona Leopoldina

Após a partida da Família Real Portuguesa do Brasil, em 26 de abril de 1821, Dom Pedro proclamou a Independência do Brasil um ano depois, em 7 de setembro de 1822, o elevando a categoria de Império. Até aquele momento Dona Leopoldina havia sido uma mulher politicamente influente, mas seu reinado se viu afetado pela chegada de uma mulher chamada Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867).

A jovem havia se tornando amante de Dom Pedro durante a estadia do último na cidade de São Paulo e chegou ao Rio de Janeiro provavelmente no começo do ano de 1823. Com o passar dos anos, para sermos mais exatos em 1825, o o caso se tornou público e foi um motivo de grande humilhação para a imperatriz.

Se conta que durante seis longos anos Dona Leopoldina não se manifestou sobre as atitudes pouco discretas do marido em relação a amante, a quem ele cobriu de joias e presentou com um casarão, um título de Marquesa de Santos, além da posição de Primeira Dama Camarista da imperatriz. Mas finalmente mudou em outubro de 1826.

Nesta data o imperador, que estava no palacete da amante, ficou furioso após receber um bilhete da esposa, no qual ela informava que Dom Pedro deveria se decidir entre ela e Domitila de Castro, tendo em vista que dedicava grande parte de seu tempo a amante. Se conta que quando o monarca voltou a Quinta da Boa Vista teve lugar uma grande discussão entre ambos.

Depois de muito gritar e esbravejar Dom Pedro caiu em si e teria se atirado aos pés da esposa pedindo perdão por suas atitudes inconsequentes que prejudicavam a imagem da Coroa Imperial. Alguns dias depois numa tentativa tosca de mostrar para os cortesãos que estava tudo bem o imperador decidiu colocar Dona Leopoldina e Domitila de Castro próximas durante uma cerimônia de Beija-mão.

Além de tentar mostrar que a paz reinava entre a esposa e a amante Dom Pedro também pretendia abafar os boatos que afirmam que a imperatriz pretendia deixar o Brasil, por não aguentar mais ter de tolerar aquela situação. O imperador porém não contava com a oposição de Dona Leopoldina a proposta “e perdendo a cabeça teria “provocado nela hematomas que foram notados pelo embaixador francês (REZZUTTI, 2017, P. 124).

Segundo versões mais dramáticas, durante uma discussão com a esposa Dom Pedro teria chutado a barriga de Dona Leopoldina, que estava grávida, ou até a atirado de “uma escada interna que seria utilizada para ligar a parte íntima aos aposentos oficiais” (REZZUTTI, 2017, P. 135).

Não sabemos se isso é verdade, mas sabemos que através de tomografias computadorizadas conduzidas pela arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel da Universidade de São Paulo, não foram encontrados ossos fraturados nos remanescentes humanos da imperatriz, que se encontra sepultada no Monumento à Independência em São Paulo.

O fato é que Dona Leopoldina veio a falecer em 11 dezembro de 1826, aos 29 anos de idade. Paulo Rezzutti em seu livro d. Leopoldina: a história não contada (Leya, 2017) afirma que é provável que a imperatriz tenha sido vítima de uma infecção generalizada se levarmos em conta os sintomas de seu quadro clínico meses antes de sua morte. Os dados foram fornecidos pelos boletins médicos escritos pelo Doutor Vicente Navarro de Andrade, Barão de Inhomirim (1776-1850), que foi o responsável por atender Dona Leopoldina em seus últimos meses de vida.

Sendo assim é altamente improvável que Dom Pedro tenha desferido contra a esposa um pontapé, a fazendo abortar e falecer como consequência do mesmo, ou a ter empurrado da escada, a fazendo fraturar um osso. Mesmo assim isso não é empecilho para fazer os boatos envolvendo uma escada assombrada pelo fantasma de Dona Leopoldina morrerem.

O fantasma de Dona Leopoldina

Segundo os rumores que correm e de acordo com os relatos de visitantes e ex-funcionários da Quinta da Boa Vista existe no local uma escada mal assombrada, que é vigiada pelo fantasma de Dona Leopoldina, que teria caído da mesma.

Em março de 2015 uma usuária do Facebook fez o seguinte comentário, sobre a suposta escada mal assombrada, em um post da gina oficial de São Cristóvão:

“Quando trabalhei por lá, o papo era que o egun da referida senhora (Dona Leopoldina) empurrava as pessoas da escada onde ela supostamente foi empurrada pelo marido. Essa escada é que dá acesso por dentro do museu à administração, portanto proibida para visitantes“.

Também há relatos sobre supostas aparições da imperatriz Dona Leopoldina nos aposentos que pertenceram ao Imperador Dom Pedro II (1825-1891), o seu filho caçula, com quem ela conviveu durante apenas um ano.

A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Regina Dantas afirmou ter tido uma experiencia sobrenatural com Dona Leopoldina, enquanto fazia pesquisas acadêmicas no prédio, no ano de 1998. Segue-se o testemunho da mesma:

– “Passava das 22h. Eu e três estagiários pesquisávamos documentos de D. Pedro quando percebemos um movimento na penumbra. Era uma mulher de cabelos presos e roupa de época, certamente estava nos espiando“.

Além disso os visitantes também relataram ver cortinas se mexendo mesmo com as janelas fechadas, o que impede o ar de ser responsabilizado pelo balançar do tecido. O lustre que ficava na sala onde estavam os móveis de Dom João VI também balançava sem qualquer ação do vento, relatavam os turistas.

Ruídos estranhos nas escadas e barulhos de máquina de escrever teriam ocorrido durante as rondas de um vigilante noturno, que preferiu não se identificar quando falou com a mídia. Mesmo tendo revisado as dependências do palácio ele jamais achou um visitante perdido ou algum ladrão que justificasse os barulhos.

Ainda em março de 2015 outra usuária do Facebook corroborou os relatos de aparições com o seguinte comentário na página oficial de São Cristóvão. Ela diz:

Eu fui estagiária lá e cansei de sair depois das onze da noite, arrumando a exposição egipcia quando ela foi reformulada. Sempre ouvi muitos barulhos como gavetas fechando e abrindo em salas trancadas, sem ninguém dentro, no terceiro andar”.

Mas talvez o mais assustador em toda essa história é o fato de que em 2 de setembro de 2018 a Quinta da Boa Vista, que abrigava o Museu Nacional, ter sido consumida durante longas horas por um incêndio de grandes proporções devido a falha de um aparelho de ar-condicionado. Projetos que visam restaurar a estrutura e os objetos já estão em andamento.

Esta matéria deu origem ao seguinte vídeo:

Fontes:

PONTES, Fernanda. Fantasmas se divertem no Museu Nacional. Disponível em: < https://extra.globo.com/noticias/rio/fantasmas-se-divertem-no-museu-nacional-471595.html >. Acesso em: 8 mai. 2019.

PESSOA, Daniela. Rio mal assombrado. Disponível em: < https://vejario.abril.com.br/cidades/lugares-mal-assombrados-2/ >. Acesso em: 8 mai. 2019.

REZZUTTI, Paulo. Domitila: A verdadeira história da marquesa de Santos. 2ª Edição. São Paulo: Geração Editorial, 2017.

Uma noite no museu – fantasmas Imperiaismeu ip. Disponível em: < http://suburbiosdorio.blogspot.com/2012/10/uma-noite-no-museu-fantasmas-imperiais.html >. Acesso em: 8 mai. 2019.

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sOBRE MIM

Fernanda da Silva Flores é graduada em História pela UNOPAR (2018) e possuí pós-graduação em Gestão e Organização da Escola com Ênfase em Supervisão Escolar (2019) também pela UNOPAR. Fundou o site Rainhas na História em setembro de 2016. Reside em Itajaí, Santa Catarina, Brasil.

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