Cixi: de concubina a imperatriz (com vídeo)

Imperatriz Cixi, por Hubert Vos, c. 1906.

Conhecida por seus complôs políticos, mão de ferro com os inimigos e conservadorismo Cixi foi uma das figuras mais destacadas da China do século 19. Ela presenciou o reinado de três imperadores e durante grande parte desse período exerceu uma influência política notavél. Conheça sua vida a seguir.

Cixi, também conhecida como Tzishí, tem uma biografia admirável.

Ela pode ser considerada uma das mulheres mais importantes do século 19, tendo sido responsável pelo governo da China por 47 anos, de 1861 até sua morte em 1908.

Ao mesmo tempo que era admirada por sua beleza e personalidade forte era temida por sua mão de ferro com seus inimigos e por sua astúcia política.

Para um mulher de tamanha influencia e poder Cixi teve origens modestas. Ela nasceu em 29 de novembro de 1835, sendo filha de Huizheng, um militar manchu que pertencia a Ordem da Faixa Azul com Borda com uma dama conhecida como Lady Fuca.

Até onde sabemos Cixi nasceu em Pequim e tinha dois irmãos, uma mulher chamada Wanzhen e um homem chamado Guixiang.

Mais tarde a futura imperatriz recordaria sua infância com amargura.

Em certa ocasião ela disse: “Quando criança, minha vida era muito difícil. Eu não estava feliz com meus pais, pois nunca fui a favorita deles. Meus irmãos tinham tudo o que queriam, enquanto eu era totalmente ignorada.”

Todavia, a vida de Cixi mudaria para sempre em 1851 e curiosamente seria graças a seus pais. Com apenas 14 anos seus progenitores a incluíram numa seleção de candidatas a concubina do Imperador Xianfeng, na altura com 20 anos.

Entre as sessenta jovens que participaram da seleção Cixi foi uma das poucas escolhidas, ficando a sexta posição. A partir de então ela tornou-se uma nobre da corte chinesa e passou a viver no Harém Imperial Chinês.

Logo a figura de Cixi começaria a ascender na hierarquia da corte e ela se converteu em uma das favoritas do imperador, graças a sua personalidade magnética e grande beleza.

Todavia, Cixi tinha um diferencial. Ela era capaz de ler e escrever em chinês, algo raro entre as concubinas da época. Isso abriu as portas para Cixi se tornar uma espécie de secretária do imperador, sendo incumbida em muitas ocasiões de ler a sua correspondência em voz alta diante do monarca.

O fato de Xianfeng permitir que sua concubina tivesse acesso a assuntos de Estado demonstra quão grande era confiança que o mesmo depositava em Cixi e isso permitiu que ela se familiarizasse com as práticas de governo e tivesse acesso em primeira mão aos acontecimentos da corte de Pequim.

Em 27 de abril de 1856 Cixi deu à luz ao Imperador Tongzhi, que seria o único filho de Xianfeng e, portanto, herdeiro do Império Chinês. A essa altura ela já havia sido nomeada como Concubina Imperial e o nascimento de um filho homem consolidou sua posição.

Cixi tornou-se assim a segunda esposa de Xianfeng, ficando somente abaixo de sua esposa oficial, a Imperatriz Consorte Ci’an que ficou a cargo da criação e educação do pequeno Tongzhi, conforme a tradição chinesa da época.

A partir de então Cixi começou a se tornar uma figura política de destaque na política da China ao ponto do próprio Imperador Xianfeng ficar receoso com a interferência da mãe de seu filho nos assuntos de Estado.

Essa situação levou a discussões públicas entre ambos.

Em 22 de agosto de 1861 Xianfeng morreu com apenas 30 anos de idade Palácio de Chengde, há 230 quilômetros a nordeste de Pequim.

Um dia antes o monarca havia se reunido com o oito políticos chineses que haviam sido incumbidos de exercer a regência, após seu falecimento.

O grupo seria liderado pelo político e cortesão machu Sushun, mas isso não chegou a se concretizar.

Apesar de Xianfeng ter deixado claro que as decisões tomadas pelos regentes deveriam ser endossadas ​​tanto por Cixi quanto pela Imperatriz Consorte Zhen, as duas mulheres não estavam contentes com suas novas posições e deram um golpe de Estado.

O episódio é conhecido na história como ‘Golpe Xinyou’ e após o mesmo seria Cixi quem controlaria as rédeas do poder na corte chinesa, com a Imperatriz Zhen exercendo pouca ou nenhuma influência.

A partir de então Cixi receberia o título de Imperatriz Viúva.

O governo de Cixi foi marcado por um rígido controle do poder e por uma severa repressão à oposição.

Do ponto de vista político, Cixi era extremamente conservadora, resistindo até mesmo à introdução na China de avanços tecnológicos como o trem ou o telégrafo. Por outro lado, gastos vastas somas de dinheiro em reformas de palácios e banquetes.

Em 1872, o filho de Cixi completou 17 anos de idade e contraiu matrimônio com Lady Arute, que após o casamento ficou conhecida como Imperatriz Xiaozheyi.

A relação da nova imperatriz com a sogra foi muito tensa desde o início, pois Cixi suspeitava que o filho e a nora planejavam reduzir sua influência política. Apesar dessa suspeita Cixi seguindo sendo uma figura de peso na política chinesa.

Em 12 de janeiro de 1875 o Imperador Tongzhi faleceu precocemente provavelmente de sífilis, enfermidade que contraiu durante suas saídas noturnas. Tongzhi também possuía graves problemas com o álcool.

Cixi considerava as atitudes do filho escandalosas e tomou medidas para que a infecção sexual transmissível do imperador não viesse à tona durante a sua vida.

Cixi assistiu seu filho no leite de morte, mas quando se deparou com a presença da nora a culpou pela condição de Tongzhi a agrediu fisicamente e ordenou que al fosse retirada dos aposentos.

Posteriormente a Imperatriz Xiaozheyi cometeria suícido com 20 anos.

Como Tongzhi não havia tido filhos e não havia escolhido um sucessor antes de morte, coube a Cixi decidir quem seria o novo imperador e a mesma escolheu seu sobrinho Zaitian, que foi entronizado como Imperador Guangxu.

Guangxu era filho de Wanzhen, irmã de Cixi que havia contraído matrimônio com um proeminente nobre da corte chinesa.

Em 1887, aos 16 anos, Guangxu já tinha idade suficiente para começar a governar por conta própria e assim o fez.

O jovem monarca, ao contrário de seu antecessor, se revelou um homem de personalidade e era abertamente admirador das monarquias constitucionais europeias e pretendia importar esse modelo para a China.

Apesar de seu reinado ter durado 33 anos, na prática ele governou apenas de 1889 a 1898. Suas reformas e governo se veriam interrompidos por um golpe de estado dado por Cixi, que estava horrorizada pelo posicionamento político do sobrinho.

Apesar de estar ausente da Cidade Proibida e vivendo no Palácio de Verão de Pequim a imperatriz ainda tinha força política para mobilizar apoiadores o suficiente para voltar ao poder.

Em 1900, apenas dois anos depois de assumir a direção da China novamente, ocorreu a chamada Revolta dos Boxers. O episódio se tratou de uma rebelião de uma sociedade secreta chinesa que culpava os ocidentais por todos os males da sociedade chinesa.

Profundamente xenófobos e conservadores, os Boxers foram apoiados pela imperatriz.

Quando os Boxers atacam missionários ocidentais em Pequim, um exército multinacional – formado por soldados do Japão, Rússia, Reino Unido, França, Estados Unidos, Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro – foi enviado à China para proteger seus cidadãos.

Temendo cair como prisioneira nas mãos dos ocidentais Cixi fugiu da capital chinesa acompanhada pelo Imperador Guangxu, que a essa altura não exercia mais poder político.

A revolta terminou em 7 de setembro de 1901, após a assinatura de uma rendição humilhante da China. Em janeiro de 1902 Cixi voltou a Pequim e pressionada começou a realizar reformas que levam a uma certa ocidentalização da China.

São precisamente desta época as fotografias que temos da imperatriz. Até aquele momento nenhuma imperatriz chinesa havia sido fotografa. Além disso, Cixi se tornou mais acessível aos estrangeiros, pois organizando grandes festas para receber diplomatas.

Durante esse período Cixi ainda concordou em redigir uma constituição e criar um governo no estilo das democracias ocidentais, mas não chegaria a colocar esse projeto em prática. Ela faleceu em 15 de novembro de 1908 de um derrame.

Um dias antes Guangxu havia falecido e Pu-Yi, homem que se traria o último imperador da China ascenderia ao trono.

Os restos mortais de Cixi se encontram nas Tumbas Qing Orientais, há 125 quilômetros a nordeste de Pequim. A imperatriz tinha 72 anos quando faleceu.

Fontes:

Cixi, la última emperatriz de China. Disponível em: < https://www.hola.com/realeza/2015100981400/cixi-ultima-emperatriz-china/ >. Acesso em 29. Nov. 2022.

Cixi, empress dowager of China. Disponível em: < https://www.britannica.com/biography/Cixi >. Acesso em 29. Nov. 2022.

CHANG, Jun. A imperatriz de ferro: A concubina que criou a China moderna. (Tradução de Lucília Filipe. 1° Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.


Texto escrito por Fernanda da Silva Flores

Publicidade

Uma resposta para “Cixi: de concubina a imperatriz (com vídeo)

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s