A Imperatriz D. Leopoldina e seu papel na Independência (com vídeo)

‘Sessão do Conselho de Estado’ por Georgina de Albuquerque, 1922. A obra foi realizada em razão das Comemorações do Centenário da Independência do Brasil.

De origem nobre, bem preparada intelectualmente e com uma visão política aguçada D. Leopoldina da Áustria se revelaria uma esposa influente e seria essencial para o sucesso do processo que levou a Proclamação da Independência do Brasil em 1822.

Leopoldina Carolina Josefa de Habsurgo-Lorena nasceu no Palácio Hofburg, em Viena, em 22 de janeiro de 1797. Ela foi a quinta dos doze filhos do Imperador Francisco I da Áustria e sua segunda esposa Maria Teresa de Nápoles e Sicília.

D. Leopoldina pertencia a Família Habsburgo, uma das mais antigas e poderosas dinastias da Europa e era muito consciente de sua herança tradicional e histórica.

Ela também conhecia perfeitamente seu papel político e social e durante a infância e adolescência recebeu constantemente instruções sobre o que se esperava dela e como deveria se portar, tanto na vida pública quanto na privada.

Isso acabou criando na jovem um profundo sentimento de dever dinástico.

D. Leopoldina também foi submetida a um cronograma rígido de estudos. Ela assistiu aulas de dança, canto, desenho, pintura, história, geografia, música, matemática e literatura.

Alemão, francês, italiano, inglês, latim e grego também constavam no cronograma. Antes de embarcar para o Brasil, em 1817, ela aprenderia a escrever e falar em português.

Com apenas 10 anos de idade, D. Leopoldina perdeu a mãe, que faleceu em decorrência de complicações após um parto prematuro.

Sendo assim, foi a Imperatriz Maria Luísa de Áustria-Este, a nova esposa de seu pai, que serviu de figura materna para a futura imperatriz.

Apesar de seu status social privilegiado a infância de D. Leopoldina não foi fácil. Em maio de 1809 a arquiduquesa e sua família se viram obrigados a buscar refúgio em Buda, na Hungria, devido a guerra travada entre Áustria e França.

Neste episódio as tropas de Napoleão Bonaparte ameaçavam tomar Viena, colocando em risco a integridade dos membros da Dinastia Habsburgo.

De Buda D. Leopoldina e sua família foram transferidos para a cidade de Eger e lá permaneceram até o fim das negociações de paz com a França.

A paz custou a perda de vastos territórios para a Áustria, além do casamento da irmã mais velha de D. Leopoldina, a Arquiduquesa Maria Luísa, com Napoleão. Algo que causou controvérsia dentro de sua própria família.

Em 1817, chegou a vez da própria D. Leopoldina contraiu matrimônio. O noivo escolhido foi D. Pedro de Bragança, o herdeiro de D. João VI de Portugal.

O responsável pela negociações diplomáticas foi o Marquês de Marialva, D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho.

Em 5 de novembro de 1817 D. Leopoldina chegou a Baia de Guanabara no Rio de Janeiro. Sua suntuosa recepção no Brasil ficou registrada numa tela intitulada ‘Estudo para Desembarque de D. Leopoldina no Brasil’, realizada pelo artista francês Jean-Baptiste Debret.

A obra atualmente está em exposição no Museu Nacional de Belas Artes.

Em terras brasileiras D. Leopoldina encontrou uma família real divida por questões políticas e intrigas palacianas. De qualquer maneira, a princesa tentou exercer suas funções reais da melhor maneira possível e se revelou uma esposa atenta e mãe dedicada.

Durante seus nove anos de casamento D. Leopoldina deu à luz a sete filhos, incluindo a Rainha D. Maria II de Portugal e o Imperador D. Pedro II.

Se acredita que ela tenha sofrido pelo menos dois abortos espontâneos, com o último sendo causado por uma infeção generalizada que a levaria a morte com apenas 29 anos de idade.

Devido ao fato de ser bem preparada para exercer suas funções reais, D. Leopoldina possuía uma visão política aguçada e foi uma boa conselheira política para o marido.

Atualmente é consenso entre os historiadores que a influência que D. Leopoldina exerceu sobre D. Pedro, que foi nomeado príncipe regente do Reino do Brasil no início 1821, foi vital para a permanência do último no país.

Os anos de 1821 e 1822 foram marcados pela deterioração das relações diplomáticas entre Brasil e Portugal.

As Cortes, que governaram virtualmente Portugal desde 1820, tomaram uma série de medidas que visavam a perda da autonomia política-administrativa conquistada pelo Brasil desde 1808, ano em que D. João VI e a Corte Portuguesa se estabeleceram no Rio de Janeiro.

Atualmente estas medidas são conhecidas na historiografia brasileira como ‘Tentativas de Recolonização’ e foram amplamente rechaçadas pela população, que clamava pela permanência de D. Pedro no país.

José Theodoro Mascarenhas Menck em ‘D. Leopoldina, Imperatriz e Maria do Brasil’ afirma que “D. Pedro, todas as vezes em que se manifestava, mostrava acatamento às ordens das Cortes e se mostrava pronto a voltar a Lisboa”.

Todavia, D. Leopoldina tinha uma postura diferente.

Paulo Rezzutti em ‘D. Leopoldina: a história não contada’ argumenta que o motivo de D. Leopoldina ter abraçado a causa da independência do Brasil era o temor que a mesma fomentava do marido perder sua herança europeia.

Egressa do absolutismo, d. Leopoldina se esmeraria em garantir aos filhos e ao marido um trono, uma vez que a situação caótica das Cortes estava pondo em risco a integridade da herança que d. João VI poderia legar aos seus descendentes. (REZZUTTI, P. 203)

Rezzutti, que também é autor de um livro sobre D. Pedro, pondera acerca das aspirações políticas de D. Leopoldina:

Diferente da sogra, a princesa não teceu nenhum plano próprio de poder, ao contrário. Iria se bater numa ideia comum com d. Pedro e fazer disso um propósito superior.

Ainda de acordo com Rezzutti o grau de envolvimento de D. Leopoldina com os assuntos políticos era tal que ela “sabia o que acontecia, tinha opinião”. Por vezes, a opinião de D. Leopoldina era era bem-vinda, outras vezes não. Mas de qualquer forma, D. Pedro sempre a escutava e isso se revelou fundamental para a Independência do Brasil.

Em 2 de setembro de 1822, na qualidade de Regente Interina do Reino do Brasil, D. Leopoldina convocou e presidiu uma reunião do Conselho de Estado, no qual se chegou a um consenso que a única saída viável era a emancipação política permanente do Brasil.

Um mês antes um navio havia atracado na Baia de Guanabara trazendo mais ordens das Cortes Portuguesas, que desmantelavam o governo de D. Pedro e ordenavam o seu regresso imediato a Europa.

Naquele mesmo dia, em 2 de setembro de 1822, a princesa e um dos principais ministros qe compunham o governo de D. Pedro, José Bonifácio de Andrade e Silva redigiram duas cartas ao príncipe onde o exortavam a quebrar vínculos com Portugal.

As duas missivas chegaram as mãos de D. Pedro em 7 de setembro, quando o mesmo se encontrava às margens do Rio Ipiranga em São Paulo. O que aconteceu a seguir todos já sabem.

Fontes:

REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: A história não contada. A mulher que arquitetou a Independência do Brasil. 1° Edição. São Paulo: Leya, 2017.

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro: A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. 1° Edição. São Paulo: Leya, 2015.

MENCK, José Theodoro Mascarenhas. D. Leopoldina, Imperatriz e Maria do Brasil. 3. Edição. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2022.


Texto escrito por Fernanda da Silva Flores

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s