A lenta morte de Carlos V

 Detalhe de ‘Apresentação de Dom João de Áustria ao Imperador Carlos V, em Yuste’, por Eduardo Rosales, 1869.

Em 21 de setembro de 1558 morria no Mosteiro de São Jerônimo de Yuste, Espanha, Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico e I de Espanha. O monarca contraiu malária em agosto de 1558 menos de dois anos depois de sua após sua chegada à Extremadura.

Carlos V, o homem mais poderoso do mundo naquela época, havia abdicado de suas funções governamentais nas chamadas Abdicações de Bruxelas que tiveram lugar em finais de 1555 e princípios de 1556. Depois de tantos anos de um reinado turbulento, repleto de guerras e conflitos Carlos se encontrava cansado e desgastado.

De acordo com a maioria de seus biógrafos ele entrou numa fase de reflexão: sobre si mesmo, sobre a vida e sobre as suas experiências, e, acima de tudo, se encontrava desanimado por não poder ter combatido o avanço do protestantismo sobre a Europa e por não ter dado um fim a ameaça que os turcos representavam a existência do continente. Sem sombra de dúvidas Carlos V se propôs tarefas hercúleas que seriam difíceis de completar.

Carlos V sempre teve uma saúde delicada, especialmente desde os 28 anos quando começou a padecer de gota. Porém, o verão de 1558 se relevaria extremamente danoso para o monarca. Nessa data um clima quente e úmido se formou em Yuste, que é o ambiente ideal para o mosquito transmissor da malária se desenvolver. Uma epidemia da doença já se manifestava na região e Carlos acabou sendo mais uma de suas vítimas.

Em 30 de agosto Carlos se sentiu mal. Seus sintomas incluíam febre alta, combinada com fases de calafrios, delírios e vômitos. Embora a malária não fosse necessariamente fatal, também não havia remédios eficazes para combatê-la. Sendo assim foram ministradas a Carlos uma série de sangria terapêuticas que não tiveram efeito positivo e sim o contrário.

A partir de 2 de setembro Carlos passou a sentir uma intensa sede e começou a vomitar bile. Como tratamento ele recebeu água com vinagre e também cerveja para beber e emplastros de ruibarbo. Logo depois, consciente de seu estado de saúde, fez algumas alterações no testamento que assinou em Bruxelas em 1554 e em 9 de setembro se confessou e recebeu a comunhão. No dia 19 de setembro teve um novo surto de febre recebendo a extrema unção por parte de seu confessor, o Frei Juan de la Regla.

Leito de morte do Imperador Carlos V conservado no Mosteiro de Yuste. Foto de abril de 2019.

Finalmente dois apenas dois dias depois, em 21 de setembro, faleceu durante a madrugada. Carlos V foi assistindo em seu leito de morte pelo Arcebispo de Sevilha Bartolomé de Carranza, que seria posteriormente acusado de heresia e preso pelo tribunal da Inquisição. Em sua mão direita, ele segurava um crucifixo que pertenceu a sua esposa, a Imperatriz Isabel; à esquerda, uma vela de Montserrat.

Após três dias sucessivos de missas, e de seu corpo ser lavado e perfumado, no dia 23 Carlos V foi enterrado no monastério onde faleceu. Ele foi colocado estrategicamente no altar-mor da capela de modo que o religioso responsável por oficiar os ritos pisassem em seu tórax e em sua cabeça durante as celebrações.

Fontes:

MARTÍN, Manuela. Carlos V, el emperador que murió por un mosquito. Disponível em: < https://www.hoy.es/extremadura/carlos-v/201511/13/carlos-emperador-murio-mosquito-20151113121518.html >. Acesso em 25. Set. 2021.

ÁLVAREZ, Manuel Fernández. Carlos V, el césar y el hombre. 2° Edição: Madrid, Espasa. 2015.

VERDEJO, Carmiña. Carlos V (Coleção Biblioteca Hispania). 1° Edição. Barcelona, Ramón Sopena. 1968.

GARCES, Sofía. Carlos V (Coleção Viajes y Aventuras) 1° Edição. Buenos Aires, Jose Ballesta Editor. 1950.

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