
Water é um filme indiano de 2005, dirigido por Deepa Mehta, que aborda a situação das viúvas hindus na Índia de 1930. Mesmo com 1h 54m de duração o filme não cansa o espectador em nenhum momento. Com uma linguajem forte, e ao mesmo tempo poética, Water prende do início ao fim.
O filme se passa em 1938, quando a Índia ainda estava sob ocupação britânica. Neste período os casamentos infantis eram comuns do que nos dias de hoje. E atrama começa a se desenvolver justamente quando Chuyia (Sarala Kariyawasam), a protagonista, fica viúva de um marido muito mais velho do que ela.
Mesmo sem ter consumado a união Chuyia é considerada uma viúva e deve cumprir com o seu destino. Suas vestes coloridas são substituídas por um sari branco e seus cabelos negros são cortados por uma tesoura. Posteriormente a sua cabeça é raspada com uma navalha.
Logo depois Chuyia é deixada num viuvário pelo pai, que ao ser questionado pela menina sobre o que vai acontecer a seguir fica com as palavras engasgadas em sua garganta. Aos gritos Chuyia é levada para dentro das paredes que caem aos pedaços.
Das 14 mulheres residentes no viuvário Kalyani (Lisa Ray) é a mulher que mais lhe dá carinho e atenção. Kalyani tem diversos diferenciais que fornecem pistas de sua condição de prostituta. É a mais bela e jovem viúva do local e não cortou os seus cabelos. Ela também sai constantemente a noite.
Parte do pagamento por seus serviços vão para as mãos de Madhumati (Manorama), que exerce um papel de liderança no viúvario. O dinheiro é usado para comprar comida para as viúvas e suprir suas necessidades mais básicas como comprar lenha para cremá-las, após sua morte.
O filme apenas retrataria o drama cotidiano de viúvas vivendo a margem da sociedade indiana se o recém-formado em direito Narayan (John Abraham) não conhecesse Kalyani às margens do Rio Gangues.
Narayan é um jovem de ideias progressistas que apoia o movimento pró-independência liderado por Gandhi. Recém-chegado do exterior ele não carrega consigo os preconceitos típicos da cultura indiana. Percebemos isso quando ele reage com indiferença a condição de viúva de Chuyia.
Enquanto o romance insólito de uma viúva com um homem abastado, e pertencente aos brâmanes – a casta mais alta da Índia –, se torna mais profundo testemunhamos com pesar como Chuyia acaba se conformando com a sua condição de viúva.
Mesmo assim ela não perde a alegria e sorri tanto que chega a incomodar as outras mulheres. Chuyia é ousada e quebra regras. Ela realiza o último desejo da viúva Auntie (Vidula Javalgekar) ao comprar para a mesma um doce chamado laddu.
Uma das viúvas que mais merecem destaque é Shakuntala. Quase sempre em silêncio ela é uma mulher enigmática que traz questionamentos atemporais como, por exemplo: o que fazer quando a consciência e a religião entram em conflito?
Além de ser enigmática Shakuntala também é extremamente relevante para o desenvolvimento da trama. É justamente uma atitude sua que nos leva para os momentos finais do filme Numa atitude intrépida ela toma as chaves de Madhumati e liberta Kalyani do cativeiro a qual tinha sido submetida.
Acontece que Kalyani havia aceitado se casar com Narayan e ir embora com ele para Calcutá a afim de recomeçar a vida, mas Madhumati, temendo perder uma grande fonte de renda e com medo da desgraça social, a prendeu em seu quarto.
Numa cena comovedora, inquietante e até frustrante quando Kalyani estava fugindo com seu grande amor percebe que iria se casar com o filho de um de seus principais clientes ao avistar a fachada de sua casa. É uma cena comovedora, inquietante, frustrante.
Indignado por perder a mulher que amava Narayan confronta seu pai. A cena é carregada de emoção com olhares de indiferença e soberba, por parte do pai, e desprezo e frustração, por parte do filho.
Mesmo com tudo isso Narayan insiste na ideia de fugir com Kalyani e vai até o viuvário, apenas para descobrir que ela cometeu suicídio. No entanto, as tragédias não acabam por aí. Logo depois da cremação da viúva suicida Madhumati envia Chuyia até a casa de um homem abastado para ser prostituída.
Na posição de substituta de Kalyani a pequena viúva é abusada sexualmente logo depois de dizer com ar de inocência: “Eu vim brincar”. Neste momento Shakuntala entra em ação novamente. Percebendo a falta de Chuyia no viuvário ela logo descobre o seu paradeiro e a resgata.
Shakuntala encontra uma Chuyia em estado catatônico. A trama chega ao seu fim quando a viúva em um ato de total desespero e tentando salvar a menina da prostituição a entrega nos braços de Narayan que parte num trem com a comitiva de Mahatma Gandhi, que acabou de ser libertado da prisão pelos britânicos.
Assim Chuyia se liberta de uma vida de prostituição forçada e Gandhi parte para mais uma etapa de sua longa caminhada pela independência indiana. Enquanto isso sozinha na estação de trem os olhos de Shakuntala ficam marejados. Pelo o que será que ela espera?
Acredito que ela espere por aquilo que falou uma certa vez ao longo do filme: “reencarnar como um homem”. Somente assim as coisas serão mais fáceis para ela. Afinal não existiam – e ainda não existem – viuvários para homens na Índia.
Para mais informações técnicas sobre o filme acesse IMDb
Trailer do filme Water, direção de Deepa Mehta:
É triste o sofrimento das mulheres da Índia, mais triste ainda é a situação das viúvas. Graças a Deus não vivemos na Índia, desejo que um dia essas idéias em relação as viúvas e o Sati Pratha sejam varridos do país.
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Eu também desejo que essas prática seja varrida da Índia. Obrigada pelo comentário.
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Fiquei bastante emocionado com o texto. Ainda bem que não estamos na Índia. Vamos torcer para um dia todo esse sofrimento acabar. O mundo precisa de mais amor.
Beijos, minha amiga!
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Olá Adinalzir, obrigada por deixar mais um comentário gentil no meu novo post. Beijos amigo!
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