Inês de Castro, a paixão que causou uma guerra (1325-1355)

A história de amor envolvendo a dama Inês de Castro (1325-1355) e o Rei Dom Pedro I de Portugal (1320-1367) evoca a velha tragédia do casal apaixonado que não pode ficar junto. É uma espécie de Romeu e Julieta às avessas uma vez que a morte de Inês em janeiro de 1355 não forjou uma paz entre as partes conflitantes.

Origens e caso com Dom Pedro I de Portugal

Inês de Castro nasceu entre 1320 e 1325 na Galiza, território atualmente localizado na Espanha. Inês era filha de Dom Pedro Fernandes de Castro (?-1343), mordomo-mor do Rei Dom Afonso XI de Castela (1311-1350). Ele também era neto ilegítimo do Rei Dom Sancho IV de Castela (1258-12195). A mãe de Inês era um dama portuguesa chamada Aldonça Lourenço de Valadares. Pouco sabemos sobre a infância de Inês, apenas que ela chegou a Portugal aos 15 anos de idade como dama de companhia de sua prima, a Infanta Dona Constança Manuela de Castela (C. 1316-1345).

Inês logo chamou a atenção do noivo de sua prima, o príncipe herdeiro Dom Pedro, e logo os jovens se tornaram amantes. Em uma manobra astuta para tentar pôr um fim ao caso amoroso do marido Dona Constança convidou Inês para ser madrinha de seu filho recém-nascido, o Infante Dom Luís (1340-1340). Isso tornava Inês, aos olhos da Igreja Católica, um membro da família acabando por transformar seu caso com Dom Pedro incestuoso, porém, a manobra não funcionou.

Em 1344 foi a vez do Rei Dom Afonso IV de Portugal (1291-1357) tentar pôr um fim no romance. Ele decidiu exilar Inês da corte, mas mesmo assim Dom Pedro continuou a visitar a amante. Em 13 de novembro do ano seguinte Dona Constança Manuela faleceu logo após dar à luz seu terceiro filho, o Infante Dom Fernando (1345-1383). A morte da infanta terminou por aproximar ainda mais Inês e Dom Pedro.

Agora viúvo Dom Pedro se sentiu livre para ir em busca de Inês e a instalou em Coimbra onde passaram a viver juntos abertamente como um casal, escandalizando a corte. Durante esse período geraram quatro filhos. Dom Afonso (que morreu na infância), Dona Beatriz de Portugal (1347–1381), Condessa de Alburquerque, Dom João, Infante de Portugal (1349–1387), Duque de Valência de Campos e Dom Dinis, Infante de Portugal (1354–1397), Senhor de Cifuentes.

Intrigas e assassinato

Enquanto os filhos nasciam Dom Pedro se aproximava cada vez mais dos irmãos de Inês, Álvaro Pires de Castro (1310-1384) e Fernán Ruiz de Castro (?-1377) que tentavam convencê-lo a reivindicar o trono de Castela. Alarmado pela possibilidade de uma guerra e temendo que, em algum momento, os filhos de Inês tentassem tomar o trono português, Dom Afonso IV decidiu que a galega deveria morrer.

Sendo assim, em 7 de janeiro de 1355, enquanto Dom Pedro estava fora de casa os cortesãos Pedro Esteves Coelho (?-1361), Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco (c. 1305-1393) assassinaram Inês de Castro com várias punhaladas. Quando o príncipe soube que Inês havia sido morta foi tomado por uma grande ira e deu início a uma revolta contra o rei.

Por vários meses com o apoio dos irmãos Álvaro e Fernando de Castro, as tropas de Dom Pedro devastaram Portugal e sitiaram a cidade do Porto, no noroeste do país. Finalmente sua mãe, a Rainha Dona Beatriz de Castela (1293–1359), interveio para acabar com a revolta e promoveu uma reconciliação entre pai e filho. Em 28 de maio de 1357 Dom Afonso IV finalmente faleceu aos 66 anos.

Vingança lendária

Logo após ser coroado rei de Portugal e apesar de suas promessas de perdão o agora rei Dom Pedro I de Portugal recuperou dois dos assassinos de Inês, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, que haviam buscando refugio em Castela. Eles foram torturados e executados diante do Palácio Real enquanto o rei assistia a cena jantando.

Em 12 de junho de 1360 Dom Pedro anunciou na Igreja de Cantanhede que, alguns anos antes, havia se casado em segredo com Inês, na cidade de Bragança. Dom Gil Cabral (c. 1300-1362), Bispo da Guarda, e um dos seus servos, Estêvão Lobato, foram apresentados como testemunhas do casamento embora ninguém soubesse dizer a data exata do evento.

Mesmo assim Inês de Castro foi declarada esposa legítima de Dom Pedro I e, portanto, rainha póstuma de Portugal. O rei ordenou que o seu corpo fosse exumado e levado do Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, para o Mosteiro de Alcobaça onde ela foi enterrada em meio a cerimônias pomposas em 2 de abril de 1361.

Antes do enterro conta-se que o rei teria forçado toda sua toda a corte a jurar lealdade à rainha morta, beijando a mão do cadáver, que foi colocado sentando no trono, com a coroa real no crânio. Não sabemos a veracidade de tais relatos, mas acredita-se que se trata mais de ficção do que de realidade.

Finalmente em 18 de janeiro 1367 Dom Pedro I de Portugal morreu, aos 46 anos de idade, sem nunca ter se casado novamente. Ele foi sucedido por seu filho com Dona Constança Manuela, o Rei Dom Fernando I de Portugal. Dom Pedro I foi sepultado numa tumba que foi colocada em frente ao túmulo de Inês, para que eles pudessem se olhar no dia do julgamento final, segundo a lenda.

Fontes:

MARTINS, Oliveira. História de Portugal. 1ª Edição. – : Edições Vercial, 2010.

M, Elsa. Inês de Castro: The Queen Who Was Crowned After Death. Disponível em: <http://www.theroyalarticles.com/articles/71/1/Ines-de-Castro-The-Queen-Who-Was-Crowned-After-Death/Page1.html >. Acesso em: 23 fev. 2017.

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4 respostas para “Inês de Castro, a paixão que causou uma guerra (1325-1355)”.

  1. Um amor impossível que fez com que a figura de Inês de Castro permanecesse para sempre lembrada na história de Portugal. Um texto que relata uma história impressionante digna de um filme de Romeu e Julieta. Um texto que traz muito conhecimento para todos nós. Meus parabéns pela postagem!

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    1. Avatar de Fernanda Flores
      Fernanda Flores

      Obrigada amigo. Fico feliz que tenha gostado do artigo. Estou constantemente lendo os seus escritos também. Abraços.

      Curtido por 1 pessoa

    1. Avatar de Fernanda Flores
      Fernanda Flores

      Fico feliz.

      Curtido por 1 pessoa

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sOBRE MIM

Fernanda da Silva Flores é graduada em História pela UNOPAR (2018) e possuí pós-graduação em Gestão e Organização da Escola com Ênfase em Supervisão Escolar (2019) também pela UNOPAR. Fundou o site Rainhas na História em setembro de 2016. Reside em Itajaí, Santa Catarina, Brasil.

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