O Czar russo Ivan, o Terrível (1530-1584) foi um homem de muitos amores. Durante o seu reinado de quase quarenta anos de duração ele teve ao seu lado oito mulheres diferentes. Algumas ele executou, outras foram enviadas a conventos, mas ele amou apenas uma. Saiba qualquer foi a seguir.
Um início de vida difícil
Ivan Vasilyevich nasceu em 25 de agosto de 1530. Ele tinha apenas 3 anos de idade quando foi proclamado Grão Príncipe de Moscou, após a morte do pai, Basílio III (1479-1533). A partir de então o governo esteve sob o encargo de sua mãe Helena Glinskaya (c. 1510-1538) e o favorito desta, o Príncipe Ivan Feodorovich Ovchina-Telepnev-Obolensky (?-1539) e o Metropolitano Daniel (c. 1492-1547).
Helena morreu repentinamente em 4 de abril 1538. O que causou rumores de envenenamento. Seja isso verdade ou não, uma semana depoisObolenski foi preso e espancado até a morte por seus carcereiros. A irmã de Obolenski, Agrippina Fedorovna Chelyadnina (?-1538), que era babá de Ivan, foi exilada da corte e enviada a um convento.
A partir de então Ivan se viu sozinho num mundo desesperadamente perigoso. As únicas pessoas que garantiam a sua segurança haviam partido deixando para ele apenas incertezas. Enquanto os nobres criavam intrigas e conspirações para alcançarem o poder Ivan se viu marginalizado em seu próprio palácio.
Tendo isso em mente não é de espantar que a infância e adolescência de Ivan tenham sido um verdadeiro inferno. Os nobres o desprezaram e não perdiam oportunidade de zombar dele publicamente, provavelmente porque o consideravam um obstáculo que os impedia de ganhar poder. Mas a vez Ivan chegou.
Ivan chega ao poder e busca um esposa
Aos 13 anos de idade o czar decidiu dar uma basta nesta situação. Em 29 de dezembro de 1543 ele ordenou a execução do Príncipe Andrei Shuisky (?-1543), líder de uma das facções mais poderosas da corte. O príncipe foi devorado vivo por cachorros famintos e com essa demonstração de caráter forte o czar ganhou o respeito de seus nobres.
Anos depois, quando o monarca contava com 17 anos de idade, ele foi coroado Czar da Rússia na Igreja da Ascensão no Kremlin e logo depois decidiu tomar uma esposa e é justamente neste momento que tem início suas tragédias amorosas.
Anastácia Romanovna Zakharyina-Yurieva
Para escolher uma consorte adequada Ivan decidiu seguir a tradição russa de então e ordenou que todos os seus nobres mandassem suas filhas ao palácio para que ele pudesse escolher a mais bela entre elas. Cerca de 1.5000 moças se reuniram no Kremlin. A escolhida foi Anastácia Romanovna Zakharyina-Yurieva (1530-1560), uma jovem de sua idade.
O casamento foi um sucesso. Anastásia fez o czar descobrir o que realmente era o amor e durante os 13 anos de casamento ele aquietaria o seu estado de espírito e buscaria o fazer melhorar como homem. Durante esse período o czar reformou o sistema legal de seu território e tentou diminuiu a corrupção entre os funcionários públicos.
Ivan também reformou o exército com a criação dos Streltsi, uma unidade de elite e liderou duas campanhas exitosas contra os enclaves tártaros de Cazã (1552) e Astracã (1556), expandindo as fronteiras russas até a Sibéria.
É lógico, Ivan não se tornou um santo do dia para a noite, mas seu comportamento melhorou consideravelmente. Segundo o que se conta Anastásia era uma mulher modesta que simpatizava com o sofrimento seus semelhantes. Ela era muito diferente de Ivan que confundia liderança com crueldade.
Talvez por seu histórico de humilhações na infância Ivan gostava de lembrar a todos que ele era o mestre e ficava ofendido com facilidade. Anastásia teve a sorte de ser amada por ele, mas “mesmo assim mesmo assim, ele a exauria com seus frenesis imprevisíveis e viagens constantes” (MONTEFIORE, 2017. P. 40).
Em 7 de agosto de 1560 Anastásia morreu aos 29 anos de idade. Ela tinha dado a luz seis crianças, mas apenas dois meninos chegariam a idade adulta, os príncipes Ivan Ivanovich (1554-1581) e Feodor I da Rússia (1557-1598). Ivan na ocasião ficou perturbado e paranoico com a ideia de que ela havia sido envenenada por nobres. A partir de então a sua personalidade mudou para pior.
Maria Temrioukova
Aos 31 anos o czar russo contraiu matrimônio com Maria Temrioukova (c. 1544–1569), uma princesa tártara. Maria tinha metade da idade de Ivan e era uma mulher de grande beleza, que encantou o czar, mas carecia das qualidades de sua antecessora e nunca se integrou bem a corte moscovita. Em breve Ivan a deixou de lado.
Em 21 de março de 1563 Maria deu à luz um menino chamado Basílio, que morreu logo depois em 3 de maio do mesmo ano. Já em 1568 o czar iniciou negociações comerciais com a Rainha Elizabeth I de Inglaterra (1533-1603), para quem ele fez propostas de casamento, em uma clara demonstração de que não pretendia permanecer casado com Maria.
De qualquer maneira ele se viu livre dela quando a czarina faleceu em 1 de setembro de 1569. Alguns especulam que ela foi envenenada, já outros afirmam que ela padeceu de tuberculose. Seja como for “Ivan enlouqueceu, expurgando seus ministros, decepando narizes e genitais”. Acusando os nobres de envenenamento ele executou um grande número deles após a morte da segunda consorte.
Marfa Sobakina
Aos 39 anos Ivan IV estava viúvo pela terceira vez. De acordo com as tradições da Igreja Ortodoxa Russa ele tinha apenas um casamento em reserva e decidiu utilizá-lo. Marfa Sobakina (1552–1571) foi a mulher escolhida para ser a nova esposa de Ivan através de um concurso de noivas, semelhante aquele que Anastásia havia sido submetida.
Porém, apenas duas semanas depois do casamento ela morreu. Havia rumores de que sua própria mãe a havia envenenado por acidente, dando-lhe uma poção para reforçar sua fertilidade. Com a morte da terceira mulher Ivan perdeu o controle totalmente.
Neste altura Ivan já havia ordenado os massacres nas cidades de Tver e Nóvgorod e não hesitou em fazer o mesmo com a família da falecida esposa. Todos os membros da Família Sobakin foram ou dispensados da corte real, empalados, envenenados ou simplesmente mortos.
Ana Koltovskaia
No ano seguinte Ivan se casou novamente (c. 1572-1626) com Ana Koltovskaia. Ele enfrentou a oposição da Igreja Ortodoxa, mas, através de um discurso inflamado, conseguiu convencer os religiosos de que não havia consumado a sua união anterior. Sendo assim ele recebeu uma dispensa especial para um novo casamento.
Durante os primeiros meses de casamento Ana exerceu uma influência benéfica sobre Ivan. Mas sua esterilidade foi um fato crucial para a sua queda. Em dentro de dois anos, o czar se cansou da esposa. Ela foi enviada para um convento onde viveu sob o nome de Irmã Daria.
Ana Vasilchikova
Após o quarto fracasso matrimonial, em janeiro de 1575, Ivan se casou com Ana Vasilchikova. Esta união significou o total rompimento do czar com a Igreja. Não sabemos praticamente nada sobre Vasilchikova, nem o seu ano de casamento, Mas deve ter havido algum tipo de problema entre o casal, pois Ana também foi enviada a um convento morrendo por volta de 1576.
Vasilisa Melentyeva
A história de Vasilisa Melentyeva (?-1580), a sexta esposa do czar, é surpreendente. Apesar de ser considerada bonita e doce ela foi a pior decepção da vida de Ivan, O Terrível que descobriu que a nova consorte tinha um amante, o Príncipe Devletev. Como forma de punição ela foi supostamente obrigada a testemunhar o empalamento do amante. Logo depois foi confinada a uma vida de claustro. Morreu jovem.
Maria Dolgorukaya
Maria Dolgorukaya, a próxima esposa de Ivan, teve um destino semelhante ao de sua antecessora. Não sabemos como eles se conheceram e nem a data de seu casamento, porém sabemos que ela acabou sendo afogada num rio. Segundo algumas versões ela teria um amante, segundo outras ela nãos seria mais virgem no momento do casamento
As histórias de Vasilisa e Maria são tão semelhantes que muitos estudiosos chegam a pensar que as duas mulheres foram apenas uma, ou ainda que essas duas personagens foram criadas no século XIX para aumentar a lenda negra de Ivan, o Terrível.
De fato, não existem registros de seus respectivos casamentos com o czar devido a ilegalidade dos mesmos. Um homem ortodoxo russo só podia contrair matrimônio três vezes, mas Ivan foi além do esperado e casou-se mais vezes deste modo suas uniões extras não foram oficiadas por bispos e arcebispos e não tiveram suas datas gravadas.
Maria Nagaïa
No ano de 1580 Ivan completou 50 anos. Seu estado físico estava bastante deteriorado e ele vivia cercado por alguns familiares que restaram, e alguns amigos e nobres, tidos como fiéis, incluindo Fiodor Nagoï, e foi justamente com a filha de Fiodor que Ivan casou-se pela última vez.
Seu nome era Maria Nagaïa e ela deveria estar tremendo quando subiu ao altar com Ivan, o Terrível. A união resultou no nascimento de um filho chamado Dimiti em 19 de outubro de 1582. Dois anos depois o czar morreu enquanto jogava xadrez, em 18 de março de 1584. O monarca já estava cansado da vida. Ele foi sucedido no trono por seu filho, com sua primeira esposa, Feodor.
Enquanto isso Maria e seu filho Dimitri foram viver no exílio. Com apenas 8 anos de idade Dimitri morreu, mas após a morte do Czar Feodor Maria foi forçada a reconhecer como seu filho pelo menos quatro “Dimitris falsos” que reivindicaram o trono russo. Ela finalmente morreu em 20 de agosto de 1608.
Apenas em 21 de fevereiro de 1613 Miguel Romanov (1596-1645) ascendeu ao trono da Rússia apaziguando o caos que tomava conta do território. Ironicamente Miguel era descendente de Anastásia Romanovna, a primeira e mais amada esposa de Ivan, o Terrível.
Fontes:
ANDREWS, Stefan. The Eight Wives of Tsar Ivan the Terrible, None of Whom Met a Happy End. Disponível em: < https://www.thevintagenews.com/2018/08/08/tsar-ivan-the-terrible-wifes/ >. Acesso em: 07 jul. 2019.
SUÁÑEZ, Montserrat. Las esposas de Iván el Terrible. Disponível em: < http://themaskedlady.blogspot.com/2013/06/las-esposas-de-ivan-el-terrible.html >. Acesso em: 07 jul. 2019.
SUÁÑEZ, Montserrat. Las esposas de Iván el Terrible (II). Disponível em: < http://themaskedlady.blogspot.com/2013/06/las-esposas-de-ivan-el-terrible-ii.html >. Acesso em: 07 jul. 2019.
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